|julho 02, 2006|
o lado bom da derrota

Nunca é bom perder, no futebol nem na vida. Mas a derrota para a França, que deu um olé de 90 minutos no Brasil em Frankfurt, pode ter o seu lado bom. Vejamos:

Fim da era Parreira. O joguinho merreca do Brasil foi a cara de (deposite o substantivo aqui o leitor) do Carlos Alberto Parreira (que disse, pois é, que o escrete amarelo não voltaria mais cedo da Alemanha). Agora, viva, é aufwiedersehen, Parreira! Não teremos mais de agüentar o Frente Fria no banco. A CBF deve dar a outro cristão a chance de ser espinafrado pela torcida nos próximos quatro anos. Parece que, para substituir Parreira, a confederação anda sondando Wilson Mano, ex-craque do Corinthians notabilizado por seus chutes certeiros e que, como técnico, já dirigiu a gloriosa Francana, no interior paulista.

Fim da era Roberto Carlos. Há vários anos, ele não dribla, não apóia, não passa, não lança, não marca, não chuta, não cruza, mas ainda assim há quem o considere um bom jogador. Agora, seu status de fato vai se encontrar com o oficial: continuará não jogando na seleção, mas fora das quatro linhas (Deus queira!).

Escola em tempo integral para todos. Como disse Thierry Henry, o atacante francês que carimbou o passaporte de volta dos canarinhos para o ninho (quem se lembra do hit da Copa de 1982?), o Brasil é um celeiro de craques porque os meninos aqui ficam jogando bola o tempo todo, enquanto os franceses têm de ficar na escola o tempo todo. O presidente Lula, arguto fã de futebol, entendeu a mensagem cifrada, irônica. Já encomendou um plano urgente para massificar o ensino em tempo integral no Brasil. Sua intenção é derrotar a França nos próximos mundiais com 23 jogadores que saibam extrair a raiz quadrada de 4 e declinem corretamente o plural de "degrau".

Gaúcho volta, no Barcelona. O clone que os seqüestradores de Ronaldinho enviaram em seu lugar para a Alemanha bem que se parecia com o melhor do mundo. O mesmo olho esbugalhado, a mesma tez, os mesmos dentes pronunciados, o mesmo jeito de andar..., mas era pedir demais que jogasse a mesma bola do craque gaúcho. Libertado do cativeiro nas montanhas afegãs neste sábado (o governo americano não deu detalhes da operação que o resgatou), o original voltará a jogar no clube mais famoso de Barcelona após merecidas férias.

Férias dos evangélicos. Que me desculpem os neopentecostais, mas é um porre essa história de jogador enviado por Deus, atleta de Cristo, gol oferecido ao Todo-Poderoso. Que voltem os macumbeiros! Um trabalhinho bem feito na encruzilhada por onde passou a delegação francesa antes do jogo, para amarrar o Zidane, teria liquidado a fatura a nosso favor. Em vez de assessor para "motivar" os jogadores, a próxima delegação vai abrir o posto de pai oficial de santo.

Férias da crônica esportiva. Põe o Juninho, tira o Emerson, põe o Robinho, tira o Adriano, aposenta o Ronaldo, alarga a chuteira do Ronaldo, põe o Ronaldo no spa, dá liberdade para o Gaúcho, troca o quadrado pelo triângulo, instaura o polígono das secas, cuidado com a bola nas costas do Cafu, recua o Dida, falta atitude, falta meio de campo, falta alegria de jogar, falta pulso no Parreira, falta coragem para mudar, falta ousadia, falta "desempenhar" (abusaram desse verbo) um bom futebol... Tanta objetividade analítica cansa. A boa notícia é que agora saem os palpiteiros do futebol e entram os da política, que vão descobrir, quiçá com a mesma perspicácia, quem vai ganhar a eleição de outubro. Vamos fazer um bolão?


texto de vinícius mota, extraído da folha online

|felipejb @ 10:57 PM| || |mande para um amigo|
 
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